sexta-feira, setembro 29, 2006

Casa nova, vida nova...

Hoje mudo definitivamente de casa, e pareço uma barata tonta.
Fica o aviso que vou estar uns tempos com acesso muito limitado ao ciberespaço, mas quando voltar a estar ligado 24 horas por dia (ou quase) espero ter mais umas histórias para publicar.

Até daqui a uns dias!

sábado, setembro 23, 2006

Dormitórios II

Os vigaristas do Metro deram-se mal com a palhaçada, que isto de tentar chular alemães e outros povos mais civilizados nunca foi muito boa política.
Aconselho a consulta do post anterior dedicado a esta temática, para melhor compreender as motivações e o alcance duma missiva que tem circulado do outro lado da rua, e que passo a transcrever:

LETTER OF COMPLAINT

Dear responsible person of “Metro”,

with this letter we - a number of inhabitants of the student hostel “Metro” -express our anger about the living conditions in the dorm. And with this letter of complain we although want to inform the officials of Latvijas Universitate and the Erasmus-Coordinators in the different countries about our present situation.

Most of us moved in on September 1st 2006 even though the rooms were not ready at that time, because you had promised us written down in the contract that the rooms as well as the kitchens will be finished and completely furnished till September 10th. Today it´s September 20th and you still haven`t fulfilled the conditions of the contract.

We have tried to be very patient and to take everything with a sense of humour because we know that we are guests in your country and that problems in different cultures are solved in different ways. Because of the following reasons we are no longer willing to tolerate the situation:

1.First of all, when we moved in most of the rooms were only consisting of a bed and half a wardrobe and they were not clean. Only because of our daily and exhausting complaining we managed to get one furniture after another until September 18th.

2.Until today the kitchen only consists of a fridge and two microwaves, therefore we are not able to cook any meals. The promised laundry-room doesn`t even exist. This situation causes a lot of extra costs and lost of time because we have to cross half of the city to wash our clothes.

3.Although you had promised us, that the workers won´t enter our rooms without someone of the officials watching them, they went many times in our rooms on their own. Because we have all our valuables in our rooms, we don´t want to accept that any longer.

4.Our internet connection is most of the time so slow, that it´s nearly impossible to send or receive emails. And the promised computer hall still doesn´t exist, as well as fitness and recreation centre with sauna, cafeteria and shop.

5.As it was agreed with you some of us lived till September 10th for free and then transferred the money for the rest of the month. That means some of us have fulfilled their part of the contract, even though the rooms as well as the kitchens weren´t finished at that time.

Finally we also would like to mention that most of the time we had problems in finding one of the officials of “Metro” to discuss our problems. And even when we talked to someone we didn´t feel that our problems were taken seriously. Now we are waiting for an official statement on our complains.


Para melhor compreensão do desconforto em que esta malta vive: ontem à noite fui visitar a maralha, precisei de largar uma poia e tive de fazê-lo às escuras, pontualmente auxiliado por um isqueiro (o que é naturalmente perigoso).

Entretanto a LU decidiu auxiliar os estudantes nas suas pretensões, também estão bastante chocados com a situação... A intensidade das queixas tem sido tal que a linha telefónica dum dos quartos, que liga à recepção, deixou misteriosamente de funcionar. Nesse quarto vive uma das jovens mais indignadas do prédio.

Permito-me achar piada.

Mais um detalhe: vou mudar-me brevemente para uma casa. Depois conto.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Editorial

Permitam-me um desabafo.

Resumidamente, estou a viver num gueto russo a mais de 3000 km de casa, num dormitório gerido por senhoras russas mal-encaradas, numa cruzada incrível para tentar arranjar um apartamento perto da minha faculdade, evitando assim viagens de 45 min em transportes públicos desconfortáveis, tenho a minha situação administrativa bloqueada por burocracias imbecis e manifesta desorganização e tenho aulas de Física em letão, língua que não compreendo.

Para que não restem dúvidas:
Estou a adorar!

Juventude, a vida em geral corre-me bem, tenho conhecido montes de personagens, tenho passado umas noitadas engraçadas, estou perfeitamente ambientado à cidade, às pessoas e à comida (nem vou falar da bebida)... e conheci uma mulher espantosa que me ajuda a ultrapassar as fases menos simples da vida por estas bandas.

Façam o favor de ser felizes!

domingo, setembro 17, 2006

Chapas

Hoje, chapas de matrícula.

O formato das matrículas na Letónia é semelhante ao formato português: duas letras, seguidas de um a quatro algarismos (não "enchem" com zeros à esquerda); no entanto, para quem tem dinheiro, há a possibilidade de comprar chapas personalizadas, o que dá azo a muito azeite...

EG significa "enterrado em Gyor"

GOOD

STEFANY

BOPOH

IMPERIAL

USSR

Tenho visto mais algumas pérolas, e quando conseguir fotografá-las publico nova dose.

sábado, setembro 16, 2006

Transportes

Rīga é uma cidade bastante grande (óbvio) pelo que andar a pé dum lado para o outro pode ser muito cansativo, e mesmo desaconselhável em algumas zonas... Já fiz o trajecto desde o centro até ao dormitório, à noite, e considero que foi uma ideia muito estúpida. Em ambas as ocasiões.

A rede de transportes públicos é muito completa, e inclui autocarros, trolleys e eléctricos da transportadora municipal Rīgas Satiksme, e ainda minibus e táxis de várias espécies, cada qual com seu filme. Aqui fica o guia:

15. trolejbuss

Nos transportes da Rīgas Satiksme, a tarifa fixa é de 20 santimu (cerca de 30 cents) para qualquer percurso. Há milhentas variedades de passes, consoante o número de percursos que permitem efectuar e o tipo de transportes utilizados (autobuss, trolejbuss, tramvajs), e em geral sai barato.

Existe a figura do cobrador, ou konduktors, uma qualquer personagem que deve amaldiçoar a sua sorte todas as manhãs, pois o trabalho exige viajar um dia inteiro a esgueirar-se dentro de carreiras sobrelotadas a tentar fazer trocos e verificar passes. Esta função é ocasionalmente desempenhada pelo motorista, sobretudo nas carreiras nocturnas. É o chamado emprego de merda, mas dá sustento na mesma.

Os horários são abrangentes, mas só surgem indicadas as carreiras entre as 5h30 e as 0h00. No entanto há serviços nocturnos, ao mesmo preço, cujos horários podem ser consultados no saber popular urbano, e que dão bastante jeito. São aliás a alternativa mais barata para voltar a casa depois duma noitada.

A capacidade – leia-se lotação – destes meios é testada ao limite todo o santo dia. A título de exemplo, a carreira 15, que sou obrigado a usar, é servida por uns 10 trolleys, dos quais 6 ou 7 são articulados, passa um a cada 5 minutos, em média, e mesmo assim há sempre um abuso de gente lá dentro. Se fosse uma discoteca, só se dançava com os olhos. Alguém consegue conceber uma maneira melhor de começar o dia do que viajar 20 minutos com o nariz enfiado num sovaco dum russo com problemas de higiene pessoal e a invejar a liberdade de movimentos da sardinha enlatada?

"multitáxi"

Estas carrinhas de 15 lugares são outra forma muito popular de circular em Rīga. Têm trajectos e tarifas fixas, mas não têm horário fixo e são exploradas individualmente, creio.
Funcionam um pouco como abutres do trânsito... procuram as paragens do transporte regular que estejam mais cheias, recolhem alguma clientela e seguem.
As tarifas são 30 santimu durante o dia e 40 durante a noite. Também sai barato, é minimamente confortável e circulam a toda a hora.

táxis vermelhos

Os táxis vermelhos têm umas vantagens fiscais quaisquer, ao abrigo dum acordo entre estes taxistas, o município, os hotéis e o aeroporto. Isto traduz-se automaticamente num controlo apertado das condições em que circulam, o que os torna particularmente fiáveis, sobretudo no que toca ao taxímetro.
Como estão associados ao hotéis, não é muito comum encontrá-los em praças, mas também andem aí...
Do centro até ao dormitório, o preço fica pelos 3 lat.

táxis brancos

Estes ninguém controla. Taxistas por conta própria são necessariamente mitras, e russos na sua grande maioria. Taxímetros traficados são o pão de cada dia, e falar estrangeiro nas proximidades dá golpada garantida. Para o percurso acima referido, em vez de 3 lat, ou mesmo 4 lat, os taxímetros podem marcar 9, 12 ou 44 lat, conforme a atitude do cliente. A forma mais segura é regatear o preço antes de entrar no táxi, alguns ainda embarcam nesse esquema.
A evitar.

E agora a anedota:
Um russo-letão morre e bate às portas do Céu.
Martinho Lutero atende.
-Bom dia. Posso ajudá-lo.
-Sim, por favor. Queria entrar...
-Mas o senhor é russo-letão, certo?
-Sou sim.
-Pois, sabe... isto é o Céu Luterano. O senhor deve estar à procura do Céu Ortodoxo...
-Mas eu fui chamado pelo Senhor!
-Oh! Desculpe! Que confusão a minha... Senhor, o seu táxi está aqui!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Steve Irwin II

Assiste-se a cada escalada de violência...

http://dn.sapo.pt/2006/09/13/sociedade/fas_steve_irwin_mutilam_raias_inocen.html

domingo, setembro 10, 2006

Dormitórios

Esta é dedicada a quem já viveu em residências universitárias e achou que tinha razões de queixa...

O alojamento oferecido aos estudantes internacionais da LU consistia em dois dormitórios, designados por Reznas e Metro, ambos situados em Rēznas iela, Maskavas forštate.

Metro
www.svmetro.lv
Ao consultar a página, e já dispondo de preçário, pareceu-me que esta gente tem as prioridades trocadas... Ginásio, sauna e coisas do género parecem-me ligeiramente descabidas numa residência destinada a estudantes universitários. Estas coisas pagam-se, e bem! Quartos que lembram os cenários dos “Morangos com Açúcar”, andares baptizados com nomes de cidades ou países, pares de quartos baptizados com nomes de estações de metropolitano... muita parra e pouca uva. Acresce a isto que quem consulte a página fica com a ideia de que a área envolvente é tão convidativa como o interior do edifício. Nada mais longe da realidade.

Este dormitório esteve fechado durante Agosto porque é novo e ainda não estava pronto. A maior parte da malta que esteve alojada no Reznas estava à espera de mudar para lá em Setembro, e quando o fizeram ficaram um bocado desapontados. E eu diverti-me imenso.

Ginásio e sauna, não estão prontos.
Elevadores, funcionam conforme a Lua (óptimo para quem vive no 9º andar).
Espelhos na casa de banho, mentira.
Secretárias no quarto, não creio.
Net no quarto, para breve.
Proibição de ter bebidas alcoólicas nos quartos (boa sorte com essa).
Cozinha? O que é isso?

Creio que por estes dias as coisas vão ficando prontas, pelo menos nas minhas visitas tenho visto algum equipamento a aparecer, mas há que dizê-lo: são uns vigaristas.
A propósito de visitas, é favor deixar documentos na recepção e preencher milhentos dados pessoais do visitante e do visitado antes de poder entrar. Para descer passados 10 minutos. Burocratas.

E quem raio paga 180 € por um quarto individual num hotel (mesmo) que fica no guetto russo?

"Reznas" - Latvijas Universitātes Dienesta Viesnīca
A minha escolha recaiu sobre este pedacinho de céu.

Entrada

Edifício

120 € por um quarto individual, com direito a lençóis. Acesso a cozinha, duche, retretes, lavandaria e sala com PC's ligados à net, parece suficiente.
Não é suficiente. Passo a explicar.

Corredor

23 quartos, metade deles ocupados por duas pessoas, a outra metade só por uma (como é o meu caso) resulta numa população flutuante entre 30 e 40 pessoas.

Cozinha

Agora temos duas cozinhas, e em cada uma delas há um frigorífico (a abarrotar), um armário pequeno, 4 pares de bicos de fogão, nem um forno para amostra, 4 lava-loiças e um escorredor pequeno.
O equipamento móvel, que se move duma cozinha para a outra, resume-se a: uma panela, 2 tachos, 4 frigideiras e 3 colheres de pau. Talheres, copos e chávenas há com fartura, pratos há talvez uns 10...

Os chuveiros são 3, cabines sem porta, e como são unissexo só são usados por uma pessoa de cada vez.
Retretes são 3, e ao fim-de-semana há crises higiénicas por estas bandas, porque aquilo só é limpo em dias úteis.
A lavandaria consiste em 4 máquinas de lavar, para servir não um corredor mas sim todo o edifício (talvez umas 150 pessoas), enfiadas numa cave, onde por sinal também ficam os estendais, sobrecarregados. A roupa leva 3 dias a secar, com sorte. E é Verão.

A sala com 4 PC's também demonstrou ser insuficiente, porque a demanda por 10 minutos para verificar correspondência e ler um par de notícias esbarra na incivilidade de ficar 3 horas seguidas em chats ou a ver páginas com vestidos de gala. E os teclados são um filme.
Só tive acesso à net no quarto quando se formalizou a minha matrícula e me foram entregues dados de acesso à intranet da Universidade.

Como se isto não bastasse, a Administradora só fala letão e russo, tal como as 4 senhoras mal-encaradas que se revezam na recepção e cuja tarefa é manter-nos todos na ordem.
As portas abrem às 6h e fecham às 23h, mas felizmente há sempre alguém na recepção para abrir a porta a quem chegue mais tarde. Pode ser preciso fazer algum barulho para acordar a senhora, mas resulta bem

Isto pareceu um terror nos primeiros dias, mas rapidamente uma pessoa se habitua. Além disso há pior. Parece que um outro dormitório aqui ao lado (afecto a outra instituição) fica mesmo fechado entre as 23h e as 6h, as instalações são um bocado mais podres e há ratoeiras com queijo espalhadas na área dos chuveiros. Só pérolas.

Entretanto já aparecia um apartamento...

As noites de Rīga

Para acabar de vez com a rotina semanal, muda o calendário das noitadas.
Até agora, estava habituado às noites de quarta e quinta em Aveiro e às noites de sexta e sábado em Leiria, com o habitual destaque para sábado. Um clássico.

Eis que de repente dou comigo numa cidade ligeiramente diferente das supracitadas.

Durante o curso intensivo de letão, a semana estava invariavelmente preenchida com aulas, portanto chegada a sexta-feira lá seguia a romaria no troley 15 até ao centro, e ninguém sabia muito bem a que horas terminava. Mesmo ao sábado dávamos um saltinho aos bares, porque é Agosto e tal, e claro que havia uma ocasional escapadela durante a semana.
Entretanto começou o ano lectivo, a cena turística já é residual, resta a estudantada. Em geral não há aulas à sexta, o que torna as noites de quinta bastante divertidas, anda tudo a descomprimir, e as noites de sexta são uma enchente.

E sábado, pergunta o atento leitor?

Sábado é para esquecer.

Escrevo isto acabadinho de voltar do centro, e passo a descrever o cenário: bares vazios, música de merda nos que ainda têm gente e uma total falta de espírito festivo nas caras de quem circula.
Esta noite foi ainda pontuada por uma streetfight à moda antiga entre dois russos: um "bolha" de boné, todo gingão, na onda da provocação verbal, e um gajo mais pequeno, de tronco nu, com um caparro considerável, calça branca e sapato branco de biqueira estreita e prolongada.
Juntamo-nos à multidão que assiste, ninguém intervém (excepto um segurança dum bar de strip que os mandou ir espancar-se para mais longe da entrada) e uniformes nem vê-los.
O "bolha" vai empurrando o outro pela rua, usando a distância de segurança, o outro tenta atacá-lo com golpes rápidos, incluindo pontapés à cara, a cena arrasta-se sem grande contacto físico... e eis que o outro aplica um selo direitinho ao queixo do "bolha" e o deixa estendido no chão. Um só golpe. Blof!
Claro que ainda lhe pregou um biqueirão nos rins, já depois de o ter neutralizado.
O gajo veste-se, que está uma aragem que constipa, e baza com a maior naturalidade. A multidão dispersa e eventualmente o "bolha" retoma a consciência, é levantado por um amigo e baza com a maior naturalidade possível depois dum KO daqueles. Tudo normal.

A polícia chegou 5 minutos depois.

Adoro Rīga. Mas não ao sábado.

sábado, setembro 09, 2006

Aviso à navegação

Adicionei uns links para quem quiser saber mais acerca deste belo país.
Leiam, não morram ignorantes!

quinta-feira, setembro 07, 2006

Pombal e suas gentes

Quando penso que Pombal já esgotou toda a sua capacidade de me deslumbrar, eis que o paradigma se altera:

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1269423&idCanal=59

quarta-feira, setembro 06, 2006

Maskavas forštate

E agora um pouco de cultura...
Durante a ocupação soviética, o regime decidiu “russificar” os estados bálticos, através de métodos particularmente repugnantes. Grande parte da população local foi deportada, e cidadãos de outras partes da URSS (russófonos) foram instalados nesta área, com particular incidência em Rīga e nas zonas fronteiriças.
Daqui resulta que a minoria russa (chamemos-lhe assim) é demograficamente significativa em Rīga. Na verdade, rondará os 40% da população da cidade.
Esta minoria está sobretudo instalada na parte Leste da cidade, numa zona chamada Maskavas forštate, que era aliás o guetto judeu antes da ocupação nazi.
Saliento desde já que a zona tem má fama, e conheço muita gente que evita deslocar-se a esta área.

É neste local simpático que estão situados 3 dormitórios estudantis, sendo que eu resido num deles. Espero que não por muito tempo. Foda-se.

O espaço em si
Riga pode ter muita arquitectura Art Nouveau, mas aqui não será com certeza.
Os edifícios variam entre a típica casa nórdica, em madeira, com telhados de águas íngremes, e os prédios de construção soviética, cujo propósito era enfiar o maior número de pessoas possível em espaços exíguos.
Além disto ser tudo cinzento (nem os passeios ajudam, tudo em cimento ou alcatrão... que saudades da calçada portuguesa) muitos prédios estão devolutos – o que não significa que estejam desabitados. Casas sem vidros nem portadas, ou mesmo sem telhado, são demasiado comuns.
A noção de ordenamento urbano desta malta também não é famoso... o conceito de “rua” abrange desde a viela mais refundida até um bairro inteiro, se for preciso. Encontrar moradas é um filme.
Em relação à toponímia, é de realçar que as placas nesta zona têm os nomes das ruas em letão e em russo, embora os nomes em russo sejam rasurados numa ou noutra.

As pessoas
É raro encontrar letões a residir por estas bandas, mas há russos aos montes e também alguns ciganos.
Na rua, no autocarro ou no supermercado praticamente só se ouve falar russo, e nada seria mais natural aqui. Daí que, ao agradecer seja o que for, um “paldies” não resulta tão bem como um “spassiba”.
Há velhinhas recessas e rezingonas a vaguear por todo o lado e a alimentar os milhares de gatos vadios das redondezas, gajos com um aspecto particularmente embrutecido a conduzir uns tunings muito suspeitos ou carripanas LADA todas fodidas, sem esquecer o ocasional camião de fabrico soviético.
Os jovens dão em delinquentes num instante, os assaltos tendem a ser violentos e costumamos ouvir uns disparos perto da linha de comboio. Também assisti a uma cena de violência doméstica em plena rua, logo pela manhã. E quando digo violência doméstica, falo num imbecil enfrascado em vodka às 9h da manhã a desancar a mulher, que vai tropeçando nos saltos altos a berrar que nem uma desalmada, enquanto o resto da família assiste sem intervir.
(E suspeito que qualquer tentativa de parar esta cena resultaria num malho de bordoada ainda maior por volta da hora de almoço... estas merdas enojam-me)
Como se todo este cenário precisasse de complemento, esta franja da população é fortemente discriminada, só porque um dia um imbecil com aspirações a conquistador da Europa um dia se lembrou de tirar uns milhares e pôr outros milhares dum sítio diferente.

É bom abrir os olhos de vez em quando.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Steve Irwin

Sim, acertaram. Steve Irwin quinou. Tanto tempo armado em parvo, lá se fodeu. Otário.

http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/5311298.stm

domingo, setembro 03, 2006

Zidane

Para todos aqueles que seguiram a final do Mundial, e a tão falada cabeçada do Zidane, aconselho a consulta desta página:
http://www.somethingawful.com/index.php?a=3952

Aniversário

Já lá vai um mês, e pela segunda vez consecutiva passei o meu aniversário fora de casa.
Aos arruinados leirienses as minhas desculpas.
Devo dizer que esta perspectiva não era muito agradável, porque passar o aniversário fora é uma coisa, passá-lo sozinho é outra.
Sozinho, julgava eu!
Tinha explicado isto à Monta, e ela disse-me para não me preocupar que não me deixava sozinho, que se arranjava alguma coisa para fazer. Convidou-me para ir à terra dela, Salacgrīva, que fica a cerca de 2h30 de Rīga, de autocarro.
Portanto dia 3 de Agosto esta base levanta o cu da cama e arrasta-se até à gare.
Meti-me no autocarro, apanhei forte seca com umas obras na estrada, e lá cheguei ao destino. Salacgrīva é uma cidadezinha simpática, costeira, acima de tudo pacata. Tinha de ser eu a amotinar.
O comité de boas-vindas era constituído pela Monta, a irmã mais nova e duas amigas.
O plano consistia em comprar alguma bebida e ir até ao quintal dos avós boer uns copos.
No supermercado encontrei uma garrafa de vinho do Porto. Desconfiei, mas claro que a comprei (era mau, mas era vinho do Porto, com selo português e tudo).
Qual não é o meu espanto quando chego ao dito quintal e vejo uma mesa cheia de snacks com óptimo aspecto e uma faixa a dizer Parabéns!
Isto, meus amigos, é prestígio.
Um serão muito agradável, bem regado, em excelente companhia, que apenas falhou num ponto – responsabilidade inteiramente minha.
Eu já tenho idade para saber que devo ter água mineral disponível na manhã seguinte a uma borracheira.
Como fiquei a dormir em casa dos avós, sem ter sequer contactado com os senhores e sem conhecer a casa, acordei cedo, cheio de sede (vá-se lá saber porquê) e água engarrafada nem vê-la. Estava sem saldo no telemóvel, não podia contactar a Monta, resumindo: estava na merda. Pois com um aspecto lamentável, por volta das 6h da matina, atravessei a vila até chegar à única loja aberta àquela hora e comprei 3 L de água, à bruta. Ao voltar a casa, e esperando passar despercebido, deide caras com a avó da Monta. Nem quero imaginar o que a senhora viu.
Mais tarde a Monta foi-me buscar e levou-me a casa dela, onde fui presenteado com um pequeno-almoço letão, abundante portanto. Soube pela vida. Conheci a família e tudo!
Voltei para Rīga a ressacar ligeiramente no autocarro, mas feliz da vida.

Obrigado, Monta! És uma jóia :)

Um pequeno passo

Primeiro relato oficial. Enjoy!

1 de Agosto
Da partida

Todas as partidas acabam por processar-se da mesma forma, creio.
Há a luta para deixar tudo arrumado, certificar que todos os documentos estão a jeito, etc. O habitual. Lá deixei o meu quartinho à mercê dum okupa de 16 anos, e como última experiência de condução em terras lusas, vai de levar a família até Lisboa.
Jantámos com os primos na Cervejaria Trindade, consta que o bife estava bastante bom e seria sem dúvida a última refeição decente durante alguns dias. Como recuerdo, o primo João Paulo puxou uns cordelinhos e arranjou-me dois copos de imperial da referida cervejaria. Não convém é andar a mostrá-los a pessoas que acham uma cerveja de 30 cl “minúscula”...
Após uma aventura para chegar ao aeroporto e conseguir encontrar a entrada do estacionamento (e a culpa não foi minha, limitei-me a seguir os primos) lá começou aquele protocolo do check-in e da proverbial seca à espera que se aproximassem as 2h da matina. Raio de hora para voar!
Despedir da família, um “até já” válido por largos meses, e eis-me a passar pelo controlo de segurança (não muito apertada, sorte a minha voar antes daquela confusão em Londres) e o Tiago Simões segue viagem...

2 de Agosto
Da viagem

No vôo até Amsterdão, bastante pontual, viajavam dezenas de ucranianos.
Um deles, sentado a meu lado e visivelmente desapontado com uma pequena confusão no embarque (coisa mínima) murmurava com aparente impunidade uma expressão tão nossa conhecida: “Foda-se!”
Queria ter fotografado a cara dele quando eu próprio soltei o meu “foda-se” ao apagar das luzes na cabina. Só queria ler o meu jornalinho.
A escala em Amsterdão foi terrível. Tudo bem, o terminal está cheio de sofás muito confortáveis, estilo “Morangos com Açúcar” sem a violência cromática, mas eu precisava de me manter acordado. Vai daí, uma dose de chá preto enquanto esperava.
1.80 EUR por água aquecida em copo de plástico e eu que me amanhe com o saquinho... guardei o recibo e vou emoldurá-lo.
Vagueei pelo terminal durante horas até ter porta de embarque para o segundo vôo, estava extremamente aborrecido e só me distraía com a diversidade étnica que também vagueava nas proximidades.
O vôo até Riga decorreu normalmente, sem grande coisa a registar. O desafio consistiu mais em esperar uns valentes 20 minutos pela porra da mala.
E ao franquear a porta...

Da chegada

A Monta, jovem letã que estudou em Aveiro no ano lectivo transacto, foi buscar-me ao aeroporto na companhia (à boleia, portanto) duma amiga, a Anitra. Por acaso, ou não, reconheci facilmente a figura, porque uma letã em Aveiro não passa despercebida.
Aparentemente, também é fácil reconhecer um português na Letónia.
Apresentações feitas, tratámos de almoçar e lançámo-nos em busca do dormitório em Rēznas iela (*). Demorou uma eternidade.
A descrição do dormitório e da zona envolvente estará disponível brevemente.
Dei entrada no dormitório, pousei a minha tralha, e entretanto o carro da Anitra resolveu arder, o que é sempre agradável (foi só um fio que queimou, mas segundo o mecânico aquilo podia ter corrido mal, mas mal mesmo...)
Assim que os pais dela vieram buscá-la (o carro ficou) eu e a Monta lançámo-nos nesse abismo que é o trolejbuss 15 (*) e fomos ao centro da cidade, onde tive oportunidade de espantar a minha guia com os meus limitadíssimos conhecimentos da geografia e do idioma locais, tratei de arranjar telemóvel, troquei dinheiro, fui instruído a respeito de transportes (com convite para me deslocar a Salacgrīva no dia seguinte), despedimo-nos, voltei ao dormitório, paguei o mês, “assine aqui onde está a cruzinha faz favor”, instalei-me no quarto 111, comprei uma massa manhosa no Super Netto (espécie de LIDL), comi a dita massa, jurei para nunca mais e fui dormir.

Finalmente. Estava a ver que nunca mais cá chegava...

(*) estes merecem descrição mais cuidadosa